sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Tourada


Hoje, mais que actual, fica o poema do José Carlos Ary dos Santos, escrito em finais de 1972 e interpretado por Fernando Tordo no Festival da Canção em 1973, ganhando o 1º prémio.

Não importa sol ou sombra
camarotes ou barreiras
toureamos ombro a ombro
as feras.
Ninguém nos leva ao engano
toureamos mano a mano
só nos podem causar dano
espera.

Entram guizos chocas e capotes
e mantilhas pretas
entram espadas chifres e derrotes
e alguns poetas
entram bravos cravos e dichotes
porque tudo o mais
são tretas.

Entram vacas depois dos forcados
que não pegam nada.
Soam brados e olés dos nabos
que não pagam nada
e só ficam os peões de brega
cuja profissão
não pega.

Com bandarilhas de esperança
afugentamos a fera
estamos na praça
da Primavera.
Nós vamos pegar o mundo
pelos cornos da desgraça
e fazermos da tristeza
graça.

Entram velhas doidas e turistas
entram excursões
entram benefícios e cronistas
entram aldrabões
entram marialvas e coristas
entram galifões
de crista.

Entram cavaleiros à garupa
do seu heroísmo
entra aquela música maluca
do passodoblismo
entra a aficionada e a caduca
mais o snobismo
e cismo...

Entram empresários moralistas
entram frustrações
entram antiquários e fadistas
e contradições
e entra muito dólar muita gente
que dá lucro aos milhões.

E diz o inteligente
que acabaram as canções.


A foto que escolhi foi tirada do bitaites.org

12 comentários:

Isabel Filipe disse...

Sem dúvida um poema bem actual ...


e obrigada por me teres feito recordar uma música de que tanto gostei...


tem um bom dia
beijinhos

wind disse...

Excelente! O grande Ary contestatário e muito, mas muito actual!
Beijos

Anónimo disse...

Adoro esta música.

Fantástica :)
O texto é lindo.

Rafeiro Perfumado disse...

A única coisa que gosto nas touradas são as pegas, suspeito que por ser a ocasião em que o touro dá porrada nos homens...

poetaeusou . . . disse...

*
assim gosto,
vamos, paulinha,
*

Flor de Tília disse...

nos trilhos da poesia deixo raios de luar.Bom fim de semana.
Um abra�o

Anónimo disse...

EXCELENTE!!! :)))

peciscas disse...

O Ary, como todos os grandes artistas, será sempre actual.
Neste caso da tourada, é um facto que não abona nada em favor das feras que ainda temos de tourear...

A. Jorge disse...

Pois!
cadavez mais tudo isto é uma tirada, não é?

Um beijo

Bom-fim-de- semana

Jorge

http://vagabundices.wordpress.com/

A. João Soares disse...

Este retrato do circo nacional ainda hoje, meio século depois, de mantém actual! Não me refiro às cimeiras!!!
A frase
«Nós vamos pegar o mundo
pelos cornos da desgraça
e fazermos da tristeza
graça.»
aplica-se ao post que deixou hoje na PÁGINA, pois ensina a ultrapassar a desgraça e o desânimo e a construir a felicidade, fazendo da tristeza graça.
Bejinho

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A. Jorge disse...

Eu não tinha bebido quando escrevi o primeiro cometário!....

O que queria dizer era:
"...Cada vez mais tudi isto é uma tourada..."
:)

Um beijo

Jorge

Papoila disse...

Um grande poema de Ary numa brilhante interpretação do Tordo, actualíssimo neste momento.
Beijos