sábado, 30 de janeiro de 2010

Corpo


Percorre-me as veias
o uníssono afinado
das vozes vividas:
-profundos silêncios
marcados com ferros
de dor e amargura.

No teu corpo o frio
de um dia ausente.


Foto minha.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Palavras de Ouro


A partir de hoje podem ler 10 poemas meus na rubrica Palavras de Ouro, no Estúdio Raposa do Luís Gaspar.

Para tal basta procurar no índice pelo meu nome.


Foto minha.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Ao princípio


Ainda não se tinha instalado
o silêncio,
quando ela regressou:
estava calor.
Deambulou - sem saber que fazer -
na casa quente do sol;
pensava em voar
(naquela tarde);
libertar-se de antigos laços
e voltar ao princípio:

-Os princípios são dolorosos.


Foto minha.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Impresente


Não me está a acontecer;
nada me está a acontecer.

Flutuo sem saber onde estou:
- Haveria de sabê-lo?

Pairo num intervalo
de um filme que não realizei,
uma cena que não encenei,
um diálogo que não interpretei.

Pergunto-me : - quem és?
Não obtenho resposta.
Mas eu sei que sou eu;
falta-me saber é :quem sou
e o que me acontece.

O impresente em forma de silêncio.


Foto minha.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Ser Poeta


Se ser Poeta é uma gaivota
agonizando na areia
ou uma pequena luz
reflectida na rua escura;

se ser Poeta é escrever
o antídoto eficaz
para a não existência,
chorar absurdamente
e rir de si mesmo;

se ser Poeta é esmagar
a própria loucura
numa nova voz:

então eu sou Poeta.


Foto minha.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

A entrevista possível


Um dia destes foi-me proposto o desafio: entrevistar Fernando Pessoa.
Não mais do que 25 linhas.

"Entrevista a Fernando Pessoa

Anos 30 do século passado.
Ao fim de dois dias a trabalhar no jornal, foi-lhe destinado entrevistar Fernando Pessoa.
O pouco que lera dele (que não gostara) não augurava qualquer entrevista interessante.
Agastado e sem a mínima vontade de se encontrar com ele, não teve outra alternativa se não tentar formalizar a entrevista.
Encontrou-o à saída da Ginginha, no Rossio, eram 21h30m.
- Boa noite Sr. Fernando Pessoa, posso entrevistá-lo?
- Depende.
- É o meu trabalho e mandaram-me entrevistá-lo para o Jornal que sai às terceiras quintas feiras na zona do Estoril.
- E preparaste as perguntas, rapaz?
- Não. Não preparei.
- Queres que te diga porque o poeta é um fingidor?
- Não. Todos nós sabemos isso.
- Que te fale da minha infância? Da minha vida como tradutor de correspondência comercial?
- Não, Sr. Fernando Pessoa. Quero só que me responda porque é que a Poesia se opõe à própria Poesia?
- Para isso, rapaz, terás que me ler – no futuro – com afinco e obterás a resposta. Como já cá não estarei e tu tens que entregar esta entrevista no jornal, limita-te a dizer :hoje, Fernando Pessoa, não estava com vontade de responder a perguntas."


Foto minha.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Os momentos


Existe o momento
em que nos sentimos
queridos de alguém
-o momento de não pensar-,
existe outro momento
em que nos sentimos
presença dispensável;
no terceiro momento
somos nós próprios
e voltamos a ser felizes.


Foto minha